Arte de Roubar

By Nuno Cargaleiro on 21:38

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Leonel Vieira pode não ser um nome que agrade a todos os apreciadores de cinema, mas o que é certo é que tem se tornado numa figura que não tem receio de arriscar, o que tem resultado em produtos bastante interessantes. Desde o seu primeiro filme, como realizador, em 1998 que Leonel Vieira tem procurado diversificar os seus projectos entre a comédia, acção, drama, contemporâneo, ou de época. Nesta década, conseguiu oferecer obras diferentes do normalmente é habitual no cinema português. Este Arte de Roubar é a sua mais recente oferta, e apesar de não ser um filme perfeito, é uma ousadia que pode abrir uma nova porta para o cinema português.

Num enredo que mistura influências de Tarantino e Guy Ritchie, nos seus tempos áureos de Snatch, Leonel Vieira relata a história de dois bons malandros, um espanhol e um português, que face a uma série de golpes falhados se vêem diante a oportunidade de roubarem um genuíno Van Gogh. Quem lança a oferta é Augusto, na figura de um sinistro Nicolau Breyner, maravilhoso como sempre.

Mas como quando a oferta, o santo desconfia, esperem muitas surpresas e reviravoltas inesperadas que irão lançar a confusão, e ameaçar a integridade física destes bons malandros, que preferem estilo perante armas, embora com um sentido algo destorcido de honestidade.

Pelo meio temos um índio lançador de facas, um grupo de gangsters anões, um morto que volta à vida, um toureiro que tem a sua orelha cortada, um bandido saído da prisão, sedento de vingança, e muitas situações inesperadas. O objectivo de Arte de Roubar é claro, o de entreter! E nesse sentido consegue um destaque comparativo com várias obras portuguesas.

Talvez nesse sentido comercial, não será de estranhar que o dialecto seja o inglês. Embora a acção ocorra em Portugal, a combinação de actores brasileiros, portugueses e espanhóis justifica uma uniformização de linguagem onde todos estejam ao mesmo nível. Para além disso, poderá auxiliar numa internacionalização, e também, permitir uma menor resistência de um espectador pouco habituado em ouvir português no cinema.

Nota-se um cuidado, atendendo às possibilidades de recursos, que não é normal pelas nossas terras. O humor tem de facto piada, e as cenas de acção tem efectivamente consequências. Embora não deva a nada a outras produções estrangeiras, embora este filme seja uma produção conjunta entre Portugal e o Brasil, verifica-se contudo que ainda existe alguma evolução necessária na dinâmica da acção e na montagem. Alguns momentos que se pretendem mais imediatos tendem a prolongar-se desnecessariamente, embora isso não se prolongue por todo o filme.

A prestaçõe dos actores, que inclui participações especiais de figuras conhecidas, concentra-se sobretudo no quarteto Ivo Canelas, Flora Martínez, Enrique Arce, e Nicolau Breyner, nos quais estes dois últimos roubam o ecrã em cada momento que estão presentes. Quanto a Soraia Chaves, é interessante vê-la como envergonhada, embora com capacidade de agir quando necessário.

Arte de Roubar não é de todo um filme intelectual, é um gozo até ao último minuto! Seja ao cinema americano, ao estilo grindhouse, ou ao cinema de acção, nota-se uma evolução qualitativa que não deve ser ignorada.

3 estrelas

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